segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Minha nova paixão

     Enquanto eu me acomodo no estádio cheio, noto as milhares de camisetas verde e amarelas. As cores me lembram um ambiente familiar, mas eu, certamente, não estou num jogo da seleção brasileira. A primeira diferença se dá pelo tamanho do gramado: é verde, obviamente, mas menor que um campo de futebol. As linhas marcadas de cal não acentuam as saídas laterais, linha de fundo e a grande e pequena área; elas traçam um formato que me lembra um grande coador de café, o que me desperta sede e fome. Mas isso também não é um problema, porque o que não falta ao meu redor é comida: ela parece até a coadjuvante do evento. Para todo lado eu vejo nachos, guacamole, burritos, sanduíches, corndogs, imensa variedade de biscoitos, salgados e doces. Definitivamente eu não estou na Vila Belmiro comendo amendoim mofado, pipoca murcha e sorvete de 99 centavos vendo o Santos jogar.
      Pela grande diversidade de comida, naquele memorável domingo de setembro eu pude concluir que meu pré-julgamento estava certo: por ser um jogo chato e parado, o Basebol requer de seu público toda uma munição extra-lazerística. Era essa a minha ideia inicial, além de acreditar que a única contribuição, em escalas globais, do desporto, era o famoso boné de aba reta que enfeita a cuca de rappers e de todo garoto com tendências-fashion-skatísticas. No entanto, como sempre, eu me descobri completamente enganada. Naquele jogo entre os Oakland A’s e Texas Rangers eu mudei de opinião. Abri meus olhos: mais especificamente, abri meus olhos para a bola de Basebol que, na média de 150 quilômetros por hora, veio na minha direção e me acertou no meu primeiro jogo. E isso em apenas 5 minutos de partida. Ops, de jogo.


Antes do jogo começar


      Eu sempre tive trauma com bolas, elas parecem voar de encontro à minha cabeça. Por isso eu odiava o vôlei e suas bolas altas e tinha pavor de ser escalada como goleira na Educação Física. Quando eu soube que estava sentada na diagonal do pitcher (lançador) e do batter (batedor), onde exatamente as bolas "falhas" vão (quando o batedor bate mau e a bola vai na direção errada), sabia que algo não ia sair bem. Me disseram para eu estar atenta e tomar cuidado, mas a cena foi muito rápida para uma reação.
      Em menos de cinco minutos de partida, enquanto a mãe de meu tio, mais de 80 anos - muitos destes vividos em campos de Baseball -, tentava me explicar as regras do jogo, o batedor resvala na bola e ela sobe, sobe, sobe e... peraí, "ooolhaaa, a bolinha tá vindo na minha direção!" (naquele jeito lesma-Marianístico de ser). Enquanto eu olho ela, bonita, subindo, subindo, ouço uma voz distante interromper minha divagação:
       - Mariana, toma cuidado, olha a bola!

Eu sei, eu também me perguntei:
pra quê tanto cara pra segurar uma mangueira?

      Eu achei que tinha voltado no tempo, e lembrei de quando um dia, enquanto brincava no mar, meu amigo gritou estas mesmas palavras. Seu gesto fez com que eu me virasse - e instantâneamente tomasse uma bolada em cheio na cara. Talvez por essa lembrança, consegui reagir mais rápido no Baseball e só pensei em cobrir minha cabeça. Quando achei que aquele milésimo-de-segundo-eternidade havia passado, senti um soco rápido e certeiro na costela, talvez parecido com o que meu irmão gostava de me dar quando ele me chamava para "brincar de lutinha". Eu destapei meus olhos, apalpei minha costela e olhei para o canto do banco procurando a bola. Nada. Me acomodei para a frente, mas senti algo nas pernas. Olhei para o meu colo, e lá estava ela, pequena, branca e aparentemente inofensiva. De repente, todo mundo gritava e apontava para mim "Ela pegou, aqui, aqui!". 
      Após aqueles 15 segundos de fama, e as saudações de "quanta sorte eu tive" de pegar uma bola no meu primeiro jogo, já que tem gente que vai em Basebol a vida toda e não pega nenhuma, me senti especial. Ganhei um cartão no qual era informada que agora eu fazia parte do seleto grupo de "pegadores de bola"; na verdade, eles só queriam saber se eu tinha me machucado - uma bola dessas pode te cegar ou quebrar ossos. Mesmo assim, com meu ego inflado, resolvi prestar atenção ao esporte. Tentei entender a movimentação básica e uma parte razoável das milhares de regras. Seria estupidez minha tentar explicar aqui o jogo, já que até hoje, após algumas aulinhas com meu tio, ainda me sinto ignorante no assunto. É a mesma desculpa que mulher dá sobre impedimento: a gente sabe o que é mas não sabe explicar. 

Minha primeira bola no meu primeiro jogo de Basebol!

      Mas o básico seria assim: os times trocam de papel. Uma hora você bate, outra você lança. O objetivo é marcar pontos, e para isso você tem que estar no papel do batedor, porque você tem que conseguir bater a bola longe, fora da área do jogo, onde o time adversário não vai conseguir pegar com suas luvinhas de forno. Esse é o tal do famoso home run. Quando você consegue isso, você pode dar a volta toda pela base e "correr para casa" - tipo aquela cena bonita de filme americano quando o cara bate na bola, larga o taco e corre sorrindo e acenando como se estivesse desfilando no Miss Mundo. Aí ele faz um ponto. 
      Mas nesse meio tempo, às vezes o cara não bate com tanta força, a bola respinga meio longe e os adversários não pegam ela há tempo - e é aí que você, mesmo que não consiga completar a volta toda, pára em alguma das bases (aqueles quadrados brancos). Se o adversário não jogar a bola "respingada" de volta para o parceiro dele que está na base e você correr para lá antes dela chegar, aquele espaço é "seu". Isso é um meio caminho, e se outras batedores do seu time forem conseguindo bater essa bola "respingada" e alcançar as bases, cada um vai se posicionando no jogo e, no final, se um dos seus conseguir bater o home run, você ganha não só um ponto, mas acumula mais pontos com cada carinha do seu time que está em uma base. Mas isso é o grosso-do-grosso-do-grosso do jogo.


      Esse bando de regra pode parecer chato, mas quando você começa a entender, descobre qual a emoção do barato: Basebol é expectativa. É sempre uma ansiedade pensar se vai ser na próxima jogada que o home run vai aparecer. E o jogo é dinâmico, os papéis se invertem. Quando seu time está na posição "defensiva", ou seja, é seu time que lança a bola, você espera que seu pitcher consiga atirar a bola com tanta força, curva e destreza que o batedor não vai conseguir rebatê-la. E é aí que se pode fazer uma comparação torta com nosso querido futebol: se o time adversário não é ofensivo o bastante, ou seus atacantes são o máximo, o goleiro fica lá encostado no gol, de figurante, sem trabalhar e sem ser lembrado. No Basebol, num momento suas energias estão concentradas em agir ofensivamente (bater a bola), na outra, em ser defensivo (lançar a bola e ser capaz de pegâ-la quando rebatida), e isso tudo com dinâmica, numa igualdade de importância e tempo para cada jogador.
      Essa dinâmica de supresas e ansiedades me fez entender o porquê de tanta comida no estádio. Não se trata de cultura fast-food (quer dizer, até é, mas nem tanto) ou de um lazer extra para a entediante partida, mas é uma forma de libertar as frustrações quando aquela bola parecia um home run mas é um out. Os americanos são muito educados para estarem a todo momento xingado o juíz e mostrando a selvageria. Enquanto o típico brasileiro grita o já tradicional coro "Ei, juíz, vai tomar no cú!", o americano se limita ao "That's not fair" (Isso não é justo). Quer dizer, eles até xingam, mas a educação é a que reina. Mas não pense que eles não vibram, eles tem seus hinos e milhares de balagandãs, cartazes e palmas de incentivo a cada mínima jogada bem feita - ou mal feita.


      É lógico que não tem como comparar o ritmo do futebol, sempre correndo, ativo. Basebol tem suas paradas, bolhas falhas, sinais, mais estratégias e menos movimentação. Mas força é o que não falta (como disse lá em cima da velocidade da bola). Eles até correm, mas só quando "necessário". Eu gosto desse tempinho para descansar dos americanos porque acho que eu tenho um organismo, vamos dizer, basebolístico. Eu sempre fui a "tipa" Romário no futebol. Entrava toda disposta, malandra, corria, dava uns piques que faziam os outros acreditarem que "eu prometia algo", aí ficava asmática cinco minutos depois e me posicionava que nem um cone na área, só, folgadamente, esperando que alguém me desse o toque para chutar ao gol. Meu tempo é de Baseball. Eu corro bem, mas é só naquele momento (quer dizer, naqueles cinco minutos iniciais).
       Não há como comparar os belos dribles, fintas e maravilhosas jogadas do Futebol, mas o Basebol também tem seu charme. A forma como o batedor se contorce para acertar a bola e o lançador para jogá-la; o jeito que o jogador se estica para pegar um bola que é quase um home run ou como o corredor se joga no chão para encostar seus pés na base; tudo isso me faz encarar o Basebol como um balé. O Futebol sempre será o número um no meu coração, mas o Basebol já ocupou seu espacinho.

Os Giants ganharam minha simpatia.
Mas eles tem uma tendência corinthiana que não me agrada.
Sou santista, não sofredora.

12 comentários:

Cahe´s blog disse...

Agora está faltando o esporte americano que eu mais gosto: o Football (Dá-lhe Green Bay!!!!!)

Mas, ficam algumas perguntinhas:

1) Você asssite ao jogo no dia 26 de setembro e só posta agora? Que é? Tá sofrendo de preguicite aguda?

2) Vai assistir a um jogo do Texas Rangers X Oakland Athletics e fica meio que fã do San Francisco Giants? Vai entender...

3) Levou a bola pra casa ou devolveu?

4) Cadê a imagem do cartão que a coloca no "Seleto Grupo dos Pegadores de Bola"?

5) E, finalmente, que raio de troço é esse de corndog? Cachorro quente de pipoca?


Abração
Cahe is a Blogger

PS.: Tudo escrito certinho, sem "intimidades", para não despertar ciúmes marcísticos.

***** disse...

Ai nêga, morri de rir!
Se eu sou acertada em cheio por uma bola a 150 km/hora, eu fico é puta da vida, e não quero mais é ver poha nenhuma de jogo!!

Sinto tanta saudade desse seu jeito otimista de encarar as coisas!! haha.

Te amo!

Bjo

Palavras Vagabundas disse...

Mari, morri de rir, continuo não entendo o jogo, mas vejo que você se divertiu!
bjs carinhosos
Jussara

Mariana Dias disse...

Carlão, podexá que meu próximo jogo será de futebol americano. haha

1. Exato. Preguiça. Imagina eu aqui, fico com milhares de coisas na cabeça pra escrever mas eu tenho um sério problema de foco. haha
2. Os A's já estão fora da disputa, foram eliminados pelos Rangers (e eles são do Texas, e do Bush blé). Os Giants são daqui, pertinho de onde eu tô, e continuam na disputa.
3. Levei pra casa, é a da foto.
4. O cartão você devolve pq coloca seus dados, assim eles ficam sabendo quais assentos tem mais chance de machucar as pessoas e em que gravidade elas se machucaram ou não - e além disso vc pode concorrer aos ingressos dos próximos jogos.
5. É tipo aquele enroladinho de salsicha, só que a massa é de milho. UMA DELÍCIA! Não sei como ainda não engordei uns 300 quilos, eu adooro uma tranqueira.

E que autocensura é essa, seu jornalista? Deixa o Márcio pra lá, seus comentários são muito bem-vindos.

Anônimo disse...

HAHAHAAH

Viu como era uma ótima ideia contar seus causos na terra do Tio Sam?

E "basebal" é bem sem graça. Prefiro o brasileiríssimo "beisebol", ou o "baseball" mesmo. É o mesmo q chamar handball de "andebol". Uma sengracice só.

Sobre a bola na costela, com 5 minutos de jogo, eu tenho um termo que resume bem isso: SORTE DA PORRA.

As regras do jogo podem parecer mesmo complicadas, mas o melhor jeito de aprender é jogando videogame. Funcionou comigo, haahaha.

P.S.: Como assim, deixa o Márcio pra lá?

Cahe´s blog disse...

Dançou negão. Você já foi deixado pra lá de forma peremptória!
De agora em diante, se tiver outra crise de ciuminho, tire a calça e pise em cima.

ahsuhauhauhuauuuuaaaaaaaa


Cahe is a Blogger

Palavras Vagabundas disse...

Mari, vim responder por aqui.
Eu já li 1808, é sobre o mesmo período do Império à Deriva, ambos são muito bem pesquisado a diferença é que 1808 foi escrito por um academico e o outro por um jornalista, um por um brasileiro e o outro por um australiano é interessante ver o tipo de abordagem sobre o mesmo assunto.
bjs
Jussara

Anônimo disse...

@lisandralavigne
Eu vou ser sincera muitas vezes fico sem entender certas palavras, ou melhor, certas frases, ou melhor ainda certos textos, ele são tão, tão deliciosamente complexos que acabo gostando não que seja ruim, é bom! As palavras difíceis como digo eu, aquelas que não consigo junta-las em seus textos me parecem tão mais suaves, adorei o blog, e aos poucos vou lendo e aprendendo também.

Beijão, Tô seguindo =D

Anônimo disse...

eu acredito que errei muitas coisas ai em cima, mais disfarça

Lufe disse...

Você disse que rachou o bico no meu buteco, vim te oferecer um esparadrapo, mas vi que tenho que te arrumar um mercurio cromo tambem, por causa da bolada.
Vc deu sorte que foi nas costelas....rsrsrs

bjo, voltarei pra te ver por aqui.

bjo

Gustavo Delacorte disse...

Só agora li isso aqui. Que demais, e quanta honra em sair do jogo com esse presente, hein?

Imagino quantos rednecks não olharam pra você no estádio e pensaram "malditos imigrantes, já roubam nossos empregos e agora roubam nossas bolas de baseball", hahahahaha.

Quanto você volta pro Brasil? Quero um souvenir.

Cahe´s blog disse...

Opa. Souvenir? Também quero e nem é preciso esperar a volta: mande um cartão postal.

PS.: Preguiça de novo? Último post há quase um mês... nada acontece por aí? E o futebol americano que está me devendo?

Cahe is a Blogger