sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Diário de um tiete

Por mais clichê que isso possa soar, ou pior, piegas, o dia mais esperado, e possivelmente, um dos mais especiais da minha vida foi este último dia 5 de outubro. Por quê? Eu fui ao show da banda G. Love and Special Sauce. Quem? Isso mesmo, G. Love and Special Sauce. Os caras podem até não fazer muito sucesso no Brasil, com uma comunidade orkutiana que não passa dos 1.500 membros, mas aqui na Gringa eles até tem um público fiel (no Facebook tem cerca de 60 mil fãs). Mas eu só sei que nada importa, porque 5 de outubro foi f*%# e não me coibirei de demonstrar minha pieguice-de-felicidade-transbordante neste singelo post.



Como posso começar? Talvez em cerca de 4 ou 5 anos atrás, quando eu, numa entediante noite, fuçava no computador do meu irmão. Em uma pasta aberta, achei uma música dissonante junto dos arquivos de Jack Johnson. “G. Love and Special Sauce?. Mas que nome ridículo é esse?”. Eu fui, cliquei, e algo inesperado aconteceu: eu gostei do que eu ouvi pra carái. Aquela música invadiu meus poros como nunca. A mistura do rock blueseiro, muita gaita e um jeito de cantar à lá hip hop me viciou, e a partir daquela fatídica noite GLASS tornou-se elemento indispensável para o meu bem-estar diário.



A primeira coisa que me passou pela cabeça quando eu estava à caminho dos EUA era a possibilidade de ir no show dos caras. E eis que este dia chegou. O GLASS abriria para o Jack Johnson, o mesmo cara que estava lá na pasta do PC do meu irmão. Nada mais conveniente do que isso, além do fato deste show ser realizado na cidade que estou estudando.
Com isso, o grande dia chegou. Pensando na possibilidade de poder encontrar os caras e talvez tirar uma foto, resolvi escrever uma carta. Unindo-se à minha síndrome de tiete, a desculpa para tal fato ridículo poderia ser uma predileção ao ato devido minha formação profissional – agora falei bonito. E outra, se não pudesse falar com os caras, ou pior, ficasse muda por estar nervosa e ter que falar em inglês, sanava os dois problemas e alcançava meu objetivo: fazer o GLASS saber que eu curto o som deles pra carái e que eles fazem uma sul-americana muito feliz, principalmente nas tardes em que, montada em sua bicicleta, ela passeia olhando o mar e curtindo um som!



Enfim, o dia chegou e eu, que deveria estar mais cedo em Berkeley para assistir minha aula, fui abençoada pela sorte de um contratempo. Cheguei lá atrasada por causa do metro e teria que entrar na aula meia hora depois. Esse revés fez com que eu pensasse: por que eu não passo lá no teatro e vejo como tá a situação da fila, já aproveito e vejo se a banda já tá por lá? Eis que eu fui, cheguei lá e existiam meros cinco mortais. Nada demais. Resolvi perguntar para uma funcionária se já tinha chegado algum músico, o que é claro, ela rejeitou em dizer afirmando que "sabia menos que eu". Resolvi ir do outro lado do Greek Theatre, e percebi que alguns ônibus de tour já estavam parados. Na entrada do estacionamento estavam três caras, e um deles, com seu estereótipo curtidor de Jazz que acha Jack Johnson e G. Love “for girls”, me diz que os músicos deveriam entrar por lá, mas que não iriam parar o carro.


Como eles eram amigáveis e só havia eu ali mesmo, resolvi esperar. Alguns minutos depois eu vejo um cara, que deve estar com seus 40 anos, caminhando pra fora do estacionamento, de óculos e boina. PQP. É O HOUSEMAN! (baterista do GLASS). Sem saber o que fazer, eu começo a chamá-lo timidamente. Ele olha como quem diz “Você tá falando comigo?”, e vai encurtando o andar. Explicação: G. Love, o vocalista, guitarrista e gaitista é a estrela da banda, os outros (agora entendi) são meros coadjuvantes. Ele, ainda cético, me olha surpreso. Eu começo a desferir todo o meu amor à música, entrego a carta, e ele fica meio que abismado. Pergunta meu nome, de onde sou, e me dá a triste notícia de que eles só tocariam por 40 minutos. Ao ver meu descontentamento, me avisa que eles tocariam no dia seguinte em Chico, mas aí fica muito longe pra mim.
Eu ainda comento como fiquei feliz em saber que a banda toda ia tocar no dia, porque achei, de início, que o show seria só o G. Love no violão e gaita. Ele fica meio que admirado, mas insiste que “o G. Love já deve estar chegando por aí”, o que me pareceu, em entrelinhas, um “não sou ninguém, o cara que você admira já tá vindo”. Converso mais alguns minutos, tiro uma foto e ele vai embora. Para mim aquilo já seria o suficiente. Mas não. Passados dez minutos, um carro se aproxima do estacionamento. Eu olho, e no banco ao lado do motorista está ele: Garrett Dutton, ou G. Love. Não posso negar que fico mais em choque do que quando vi o Houseman. Querendo ou não, o cara É O CARA. Tem presença.





Para não dar uma de fã louca, eu só chamo uma vez e faço sinal de querer uma foto. Não é nada demais, até porque só eu estou ali. Aliás, nenhum dos caras do estacionamento sabiam que o Houseman era o Houseman, que o G. Love era o G. Love. Só eu ali estava dando ibope. G. Love, com seus óculos escuros, pareceu meio mala, e uma pontinha de desapontamento surgiu em mim. Mas aí quando eles começaram a sair do carro, percebo que simplesmente o MARK BOYCE (tecladista) também estava ali. PQP! Eles também se dirigem para o mesmo ônibus que está fora do estacionamento. Falo com Mark Boyce, tiro foto, fico em choque, e eis que a estrela vem: lindo, com seus mais de “seis pés de altura”, segundo as medidas americanas, numa concepção do meu homem perfeito: um jornal em uma mão e um violão na outra.
Eu resolvo dizer, já imaginando o jeito malístico dele, “Oi, eu só queria uma foto”. Eis que ele tira os óculos escuros, mostra-me seus lindos olhos azuis e no tom mais doce diz: “Sure!”. Eu discorro novamente todo meu amor, o motivo de estar ali, a carta, e ele faz um “ooooh” do tipo “eu não mereço, que gracinha” e me dá um abraço. Eu cometo meio que uma gafe perguntando do Timo Shanko (contra-baixista), membro mais recente da banda, porque acho que um cara que sai do ônibus deles era ele, e o G. Love brinca comigo, o que faz o cara querer receber ao menos um aperto de mão. Mas enfim, as poucas palavras trocadas, a foto, o autógrafo e os desejos de bom show que eles me deram me fizeram ganhar o dia. O ano. A década. Sei lá quanto tempo.
Para não ficar aqui discursando cada detalhe de fã-louca-apaixonada, o show é fantástico, sendo que eles abrem com uma das minhas músicas favoritas, Blues Music. E não pára por aí. Tocam Booty Call, com direito a paradinha para perguntar ao público se eles querem a versão “limpa” ou a “suja”, e a perfeita Cold Beverage. Não tem comparação ver os caras tocando ao vivo. É mágico. Tirando o curto show deles, meu dia se torna o mais-perfeito-dos-perfeitos. Para fechar, além do show de Jack Johnson, que arranca suspiros da platéia, com toda a razão, ao lado do fantástico Zach Gill, que manda muito bem no piano, eu ainda tenho a oportunidade de rever Garrett Dutton. Após o show, ele assina pôsteres para a ínfima fila de 20 ou 30 neguins - num show de 8 mil pessoas. Eu, encabulada, quando o vejo, penso que ele vai me receber com um sorriso amarelo de “essa pentelha aqui”, mas ele me olha e diz “Tudo bem?”. Não é um mero tudo bem, é um “Tudo bem” em português mesmo. O que mais eu quero dessa vida?


3 comentários:

Cahe´s blog disse...

Tudo bem?

Acho que entendi. Os caras certamente tocaram seu ponto G com um molho especial.
Certo?

Tiete que se presta é assim, TEM DE TER SORTE!

Parabéns.

Cahe is a Blogger

Anônimo disse...

Taporra, que intimidade é essa do Carlão? Eu deixei, por acaso?

Sobre o texto, QUE FODA, Mari, confesso que deixei cair umas lágrimas. Ok, exagerei, mas o olho deu um brilhinho, hhehe. Pareceu que eu tava ali junto, curtindo esses tal de gilove e os carai.

Do caralho, Mari. Parabéns

Cahe´s blog disse...

Quê isso Marcio, o que escrevi não tem intimidade alguma - maior respeito!
Apenas deve ser interpretado como se estivesse lendo Shakespeare, quando o Sol nem sempre significa sol (Um Príncipe em Minha Vida) e assim por diante.
Leia nas entrelinhas e verá que os caras tocaram um ponto especial dela, poderia ter escrito o coração, mas não seria tão profundo e sim um lugar comum.

PS.: E deixe de ser ciumento!

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