sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Santiago, aquele tipo único


É fascinante saber que existem tipos tão peculiares no mundo, que se distinguem dos demais humanos de uma forma que faz qualquer um pensar na normalidade da própria vida, pesar tristezas, aventuras e alegrias. Santiago, mordomo argentino que serviu por 30 anos a família Moreira Salles (dona do Unibanco), num ‘palacete’ na Gávea, na cidade do Rio, é um destes seres.


De gosto refinado, portador de grande conhecimento e memória, Santiago mereceu há cerca de 13 anos atrás um documentário sobre a sua vida. Produzido por Joãozinho – como o argentino chamava o cineasta João Moreira Salles, filho de seu patrão da casa no bairro carioca – o vídeo acabou por não sair, sendo editado, com um novo olhar e enfoque, apenas neste ano. Santiago faleceu antes de saber que seu documentário iria realmente sair, com mais de 80 anos de vida e de muita história.


Apesar do doc. de João Moreira Salles não possuir o enfoque no ‘personagem central’, mas em como fazer – ou não fazer – um documentário, e como foi a vida para o documentarista na casa de sua infância, é impossível não prestar total atenção ao peculiar Santiago. O mordomo fala em um espanhol italianado, aquela típica cara de argentino-europeu. Um velho meio-interaço, meio acabado, que carrega uma peruca – que quase consegue ser imperceptível.

Apesar de não possuir família, o senhor de bengala nas mãos, que acata todas as ordens de “portar-se naturalmente” no filme de seu antigo patrãozinho, tem a companhia de centenas de pessoas em seu modesto apartamento. São os membros da aristocracia universal – lista que o velho mordomo compôs por mais de 50 anos de vida. As milhares de folhas empilhadas em uma estante sob um antigo relógio de parede une desde dinastias antigas, como os nomes mais importantes do povo hitita, da Pérsia, do Egito, até as famílias italianas, nobrezas inglesas e francesas mais recentes. E tudo documentado em inglês, francês, italiano e português.


Tudo o que o velho Santiago comenta, suas histórias, paixões e admirações pelo que é fino, que é europeu, são curiosas. Suas rezas em latim, a obrigação de tocar piano de fraque, pois afinal “é Beethoven”, e a capacidade de tocar castanholas acompanhando o ritmo de uma música clássica, tudo é único. Triste é não saber o que ele realmente queria dizer, já que todo o documentário é manipulado para ironicamente ter naturalidade. João Moreira Salles que deve se sentir culpado, mas o perdoamos por ter criado a revista piauí, vai. E afinal, é de muita coragem o cineasta escancarar seus erros do passado, e aprender com eles, criando uma obra muita boa de se ver.

Atividade: texto sobre jornalismo participativo

O profissional que faz a diferença

A questão da obrigatoriedade ou não do diploma no jornalismo tem sido debatida por profissionais, acadêmicos e empresas há alguns anos. Quando se trata de web, o poder de informar parece tomar um único caminho: faculdades, bye bye. Se por meio de blogs, portais e outros qualquer pessoa obtém o poder da palavra, fica claro que tratando-se da internet, jornalistas e não-jornalistas têm espaço de sobra.

O Jornalismo Participativo – se foi batizado com esse nome –, tem razão de ser. O direito de se comunicar não deve ser restrito, e com uma população mundial de seis bilhões, porque poucos devem ter a permissão de trocar idéias, conhecimento e informação? Outra vantagem: na web, as leis velhas dos papéis não valem, e se valem, são difíceis de serem aplicadas. Se não é possível criar uma revista, um jornal, num papel, porque não possuo o tal do “MTB”, com um blog, pode-se ir muito mais além: produzir grandes reportagens, com espaço de sobra para comentários e críticas. É, o jornalismo participativo parece restringir-se à Internet. Mas se ele está aí para ser alternativo, fazer a diferença, possibilitar que todos se comuniquem, há ainda muito caminho pela frente: deve tornar-se ferramenta para todos, sem restrições de classe. Se este é o seu papel, diversificar e não monopolizar, ainda vai muito chão.
Quanto aos jornalistas de carteirinha, não devem se preocupar. A faculdade não dá técnica, dá conhecimento cultural. O profissional de qualidade é que faz a diferença. Ele não disputará emprego com um blogueiro qualquer, mas com espaços virtuais que merecem ser valorizados. Então, se este jornalista é capaz de dimensionar informações, sintetizar e jogar fora todo o lixo de notícias espalhadas pela web, ele não deve temer a força desta ferramenta, pois o seu portal de notícias, blog jornalístico, será muito mais visitado do que qualquer outro.

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Análise de usabilidade de sites


Dentro do tipo de notícia que o site da BBC Brasil propõe publicar, o portal não deixa nada a desejar: informação balanceada sobre os principais acontecimentos do dia no mundo, sempre dando destaque às notícias que estão na mídia constantemente, como a guerra no Iraque. Como é um ‘braço’ no Brasil do portal britânico, sempre dedica espaço a matérias sobre a Grã-Bretanha.

Por ser destinado a um público exigente – já que estes buscam um portal de notícias internacional – o site apresenta um conteúdo alternativo em suas pautas, com assuntos que muitas vezes são esquecidos pela grande mídia, como as guerras civis no continente africano. Um exemplo é uma matéria de segunda chamada de hoje (06/09): Darfur: Sudão e rebeldes discutirão paz em outubro.

Quanto à acessibilidade, o tempo de carregamento das páginas é tolerável (até para a internet discada), apesar das matérias sempre acompanharem fotos, links e vídeos. Porém, as matérias nunca possuem o nome dos jornalistas, excetuando-se artigos e um outro canal – o blog dos editores – criado justamente para disponibilizar um contato entre público e portal, através de comentários, sugestões e dúvidas. O site sempre realiza enquetes sobre os assuntos de maior destaque.

O portal da BBC Brasil mantém um padrão em todos os seus links, e a cor azul – predominante no portal de notícias, além do preto, são praticamente as únicas que compõem o ‘cenário’, sendo de ótima escolha, pois não torna a leitura das matérias pesada. Apesar de possuir bastantes links, estes se fazem necessários, pois levam o internauta a ter conhecimento de todo o andamento do fato, e não levam a assuntos irrelevantes. Desta forma, o portal da BBC Brasil atinge todos os seus objetivos dentro da proposta escolhida.

O site da Prefeitura Municipal de Itanhaém, apesar de ser produzido com a intenção de informar munícipes sobre serviços e eventos na cidade, sempre acaba sendo um meio de ‘divulgar’ os projetos e melhorias da administração presente. O portal possui linguagem clara, que não prejudica o entendimento das notícias, e a página carrega com ‘certa’ facilidade.

As matérias não são assinadas, mas são atribuídas aos respectivos setores da assessoria, com o devido e-mail abaixo, para possíveis dúvidas. Na parte inferior da página, há endereço, e-mail e telefone da Assessoria de Comunicação. Há ainda um link “Fale conosco” bem no topo da página, que possibilita outro meio de comunicação.

As cores predominantes são o azul e preto (para os textos), porém, há uma quantidade relevante de links coloridos que não chegam a prejudicar o visual do site, mas que deixam o cenário um pouco pesado. Um link de busca de matérias na parte superior do site favorece a proposta do site, para que o cidadão encontre com maior facilidade as informações que deseja obter.
Se o site da SBD se limitasse somente ao espaço visualizado quando se entra no site, sem mover a barra de rolagem, já estaria bom. Os primeiros links já satisfazem todas as dúvidas sobre o assunto (tudo sobre diabetes – sintomas, alimentação, atividade física, dúvida com médicos, agenda de eventos), olhando-se do (nosso) ponto de vista de leigo.

As cores da página são em sua maioria neutras, agradáveis, mas o exagero de informações - pois a primeira página é extensa - tornam a leitura meio confusa, cansativa, devido a tanta informação. Deveria ser mais enxuto. Apesar disso, o site carrega com facilidade, e a maioria das matérias são assinadas, tendo todas espaço para comentários. Há no topo do site um link para contactar a SBD, e ainda, o espaço inferior geralmente de praxe em sites, com endereço, telefone e expediente – com os nomes dos repórteres, conselho editorial, presidência da SBD e até da assessoria de comunicação responsável.
Avaliação: BBC Brasil - 29 pontos
Pref. Itanhaém - 23 pontos
SBD - 24 pontos

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Conversa de bar

Você entra no bar, bebe umas e outras e começa aquele momento revelação. Brada com toda alegria e lágrimas nos olhos que ama seu amigo que está ali ao lado – e que não acha graça nenhuma do grude e da perda de audição devido aos seus berros. Ama mamãe, papai, titio, titia, e todos os seres repugnantes da Terra – pois sim, coitados, eles não tem culpa de serem repugnantes. E ama também aquele outro bêbado que calmaí – está passando agora ao seu lado. Ele senta, bebe uma cerveja contigo, brinda a alegria de viver e de travar novas amizades, e em seguida corre para o famoso banheiro de bar estilo-final-de-noite.


Ele retorna do temível mas irrecusável toilette, discute ética, literatura, música, e até anatomia com você. Não se sabe ao certo como aquele assunto começou, mas afinal, como ele foi mesmo parar na sua mesa? Mas isso não importa mais, porque o que mais incomoda é aquela sensação estranha na barriga, parece que algo sobe-e-desce sobe-e-desce dentro do estômago. Mas isso também não importa, porque você está com os seus amigos, e só este fato tem a capacidade de cobrir os pensamentos como em um outro dia qualquer não teria.


Quando vê, cria em cinco minutos uma intimidade de cinco anos com o tal estranho-amigo, pois o xinga de viado para baixo por ele ter dito que gosta de Álvares de Azevedo. Álvares de Azevedo? Manda ele para o inferno, não quero saber se ele é clássico, é obrigatório na Fuvest, e que foi influenciado pelo poeta lord Byron do século tal-tal-tal, ou que cita em seus contos um tal Manoel de Maria Barbosa du Bocage – pois para você, afinal, Bocage é um bar perto da Paulista onde se concentram os baladeiros GLS. - Vai falar de morte, depressão e cadáver para lá, e aproveita e se enterra junto com o Augusto dos Anjos e a Clarice Lispector.

Tudo bem, as opiniões estão sendo ditas na ignorância, mas evoque com toda a cerimônia – pois existe maior prazer do que refocilar no desconhecimento? Pelo menos é o que diz aquela comunidade de uma rede de relacionamentos online. Quanto ao papo de música, não vem somente com lirismos-circo-mpb, porque de “axé a Axel Rose tá valendo”. Discute-debate-discute, mas no fim das contas ninguém está ouvindo ninguém, na verdade são dois monólogos paralelos.


Conversa vai, conversa vem, e tudo parece acontecer muito rápido. Ele se levanta, diz que precisa ir, devido a uma carona com um outro meio-alegre qualquer, que segundo os termos juvenis, “está apto a dirigir”. E aquele laço fraternal de tão antiga-nova amizade é quebrado. Você o verá novamente? Jamais. E se recordará daquele dia, daquele bâbado-amigo, como se realmente a conversa tivesse sido instrutiva. Mas como descreve a psicologia, o ser humano tende a relembrar de eventos antigos, com o decorrer dos anos, de forma mais agradável do que eles realmente foram. E mesmo que encontre o tal bêbado (sobriamente) no futuro, ele de faxineiro e você de chefe da mesma empresa – ou vice e versa – vocês não se reconhecerão. Apenas lembrarão separadamente daquele dia, no bar.

Brincando no Paint!

Resolvida a dar um pouco de vida a este blog mofado, postarei uma crônica que produzi valendo atividade para nota na faculdade. É lógico né, produzir de pura vontade e criatividade é que não é! rs

Bom, queria ter desenvolvido mais a idéia, mas não deu. Até fiz um desenhinho para deixar mais engraçadinha - e para eu poder brincar no Paint, é lógico!



Pequenas Gentilezas
Apesar deste mundo moderno e parecendo clamar por individualismo, ainda é possível ver que os pequenos favores e simpatias resistem. Outro dia, sentada no terceiro assento de um micro-ônibus, esperava entediadamente a chegada do meu ponto final. No meio da jornada, uma mulher de meia-idade sobe e começa a relatar o seu impasse.

Sem trocado em casa, o único dinheiro que possuía era uma nota de cinquenta reais dada por seu filho. Ela sabe que a placa com os dizeres “Troco máximo R$ 10,00” a impossibilita de utilizar o transporte, mas insiste em persuadir o motorista-cobrador de que já tem marcada a consulta no médico, dando a entender de que quando se trata de saúde, exceções devem ser abertas. Impaciente e fingindo simpatia, o motorista explica que não pode fazer nada, pois “acabou de abrir a linha”, e “não tem um tostão no caixa”.

Enquanto isso, uma senhora de ‘idade-inteira’ logo a minha frente observa com atenção a conversa entre possível passageiro e motorista, na dupla de bancos à esquerda do ônibus, reservadas aos velhinhos e afins. Parece analisar consigo mesma se interfere na conversa ou não. De cabelos brancos, coque e grampos – deste estilo que hoje se vêem somente em senhorinhas evangélicas de correntes fervorosas –, com roupas simples e sacolas de supermercado que guardavam de tudo, menos compras de supermercado, a velhinha saca dois reais de uma bolsinha de moedas e declara com voz firme, mas doce: - Eu pago para você, afinal, já me fizeram isso antes.

A mulher de meia-idade agradece com toda a simpatia que pode, mas com malícia de quem tinha encenado a peça esperando “a deixa final” de um colega de transporte. Já a senhorinha, desceu com expressão de satisfação no rosto. Afinal, se é tão bom agradar os amigos - fazer pequenas gentilezas a eles - é mais prazeroso ainda ser útil a um ser estranho que talvez você nunca mais esbarre na vida.

Por mais que o bom cidadão resmungue quando o ônibus está lotado, e ninguém se levanta para dar lugar àquela pobre velhinha cheia de sacolas nas mãos – acentuando-se ainda que o banco reservado a ela está ocupado por um jovem sem forma e modos -, é prazeroso perceber que a tal senhorinha sente-se totalmente agradecida por tê-la dado o lugar que ocupava. E depois, triunfar perante a boa educação que possui, comparada ao resto dos quarenta seres apertados naquele desconfortável espaço.