segunda-feira, 27 de junho de 2011

Um ano passa rápido.

      Eu quero andar descalça na rua. Sentir o chão quente dessa linda palavra que é paralelepípedo. Quero sair e sentir o vento úmido da maresia molhar meu rosto, suar e cheirar a chuva, sentir a terra molhada invadir até mesmo o paladar.
      Não devaneio com o paraíso. É a intensidade das imperfeições que me aguçam o desejo. Se lá sofro - e como choro, me desaponto, me vitimo! -, é um sofrer marcado pelo calor das paixões, pelo exagero, pela plenitude. Não quero a melancolia seca, tediosa, mas a radical, febril, teatral.
      Quero andar, olhar, me identificar, pertencer - ser eu. Quero errar naturalmente, sem consciência, sem titubear. Quero ser lida inteiramente, ser desmascarada - que os erros da linguagem não escondam os defeitos, as bizarrices da personalidade.
      Quero sentir a saudade habitual, gostosa, a saudade bizarra daquilo que acabo de ver, tocar; saudade do que está longe não faz sentido, não tem graça. Quero a minha localização geográfica, minha rota de fuga para a água; quero me guiar pela borda do mar.
      Quero voltar para admitir que tudo não passava de ilusão; que o cantar do sabiá e o céu cheio de estrelas não eram assim tão especiais, diferentes. Mas quero ter o direito de errar e pôr culpa na saudade - e viver dos clichês, de só poder julgar, se identificar por estar longe, por conhecer o outro. Depois de viver o exótico, quero desfrutar dos primores da mesmice - mais uma vez e sempre - e sempre insatisfeita, querendo mais, querendo vida.