quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Conversa de bar

Você entra no bar, bebe umas e outras e começa aquele momento revelação. Brada com toda alegria e lágrimas nos olhos que ama seu amigo que está ali ao lado – e que não acha graça nenhuma do grude e da perda de audição devido aos seus berros. Ama mamãe, papai, titio, titia, e todos os seres repugnantes da Terra – pois sim, coitados, eles não tem culpa de serem repugnantes. E ama também aquele outro bêbado que calmaí – está passando agora ao seu lado. Ele senta, bebe uma cerveja contigo, brinda a alegria de viver e de travar novas amizades, e em seguida corre para o famoso banheiro de bar estilo-final-de-noite.


Ele retorna do temível mas irrecusável toilette, discute ética, literatura, música, e até anatomia com você. Não se sabe ao certo como aquele assunto começou, mas afinal, como ele foi mesmo parar na sua mesa? Mas isso não importa mais, porque o que mais incomoda é aquela sensação estranha na barriga, parece que algo sobe-e-desce sobe-e-desce dentro do estômago. Mas isso também não importa, porque você está com os seus amigos, e só este fato tem a capacidade de cobrir os pensamentos como em um outro dia qualquer não teria.


Quando vê, cria em cinco minutos uma intimidade de cinco anos com o tal estranho-amigo, pois o xinga de viado para baixo por ele ter dito que gosta de Álvares de Azevedo. Álvares de Azevedo? Manda ele para o inferno, não quero saber se ele é clássico, é obrigatório na Fuvest, e que foi influenciado pelo poeta lord Byron do século tal-tal-tal, ou que cita em seus contos um tal Manoel de Maria Barbosa du Bocage – pois para você, afinal, Bocage é um bar perto da Paulista onde se concentram os baladeiros GLS. - Vai falar de morte, depressão e cadáver para lá, e aproveita e se enterra junto com o Augusto dos Anjos e a Clarice Lispector.

Tudo bem, as opiniões estão sendo ditas na ignorância, mas evoque com toda a cerimônia – pois existe maior prazer do que refocilar no desconhecimento? Pelo menos é o que diz aquela comunidade de uma rede de relacionamentos online. Quanto ao papo de música, não vem somente com lirismos-circo-mpb, porque de “axé a Axel Rose tá valendo”. Discute-debate-discute, mas no fim das contas ninguém está ouvindo ninguém, na verdade são dois monólogos paralelos.


Conversa vai, conversa vem, e tudo parece acontecer muito rápido. Ele se levanta, diz que precisa ir, devido a uma carona com um outro meio-alegre qualquer, que segundo os termos juvenis, “está apto a dirigir”. E aquele laço fraternal de tão antiga-nova amizade é quebrado. Você o verá novamente? Jamais. E se recordará daquele dia, daquele bâbado-amigo, como se realmente a conversa tivesse sido instrutiva. Mas como descreve a psicologia, o ser humano tende a relembrar de eventos antigos, com o decorrer dos anos, de forma mais agradável do que eles realmente foram. E mesmo que encontre o tal bêbado (sobriamente) no futuro, ele de faxineiro e você de chefe da mesma empresa – ou vice e versa – vocês não se reconhecerão. Apenas lembrarão separadamente daquele dia, no bar.

2 comentários:

Anônimo disse...

Você é lesada.

E ainda me faz rir sozinho.

Pelo menos eternizou o momento.

***Isa*** disse...

Nhaaaa...
Eu AMEI essa crônica!! :)
Li várias vezes, morri de rir e mostrei pra várias pessoas (tá, eu exagerei! Não foram taaaantas pessoas assim... mas mostrei pro Lucas, pra minha mãe, pedi pra Su ler e li pro Dé)
Todo mundo adorou...e como a pessoa aí de cima comentou... o momento da leitura e do acontecimento ficaram eternizados.
Beijinhooos, amoraa!
te amooo