terça-feira, 2 de março de 2010

Twitter e o medo da solidão

Ao olhar as últimas notícias num portal na internet, deparo-me com a seguinte informação: segundo pesquisa de uma empresa inglesa, cerca de 40% dos textos publicados no serviço de microblog Twitter são inúteis, ou seja, são mensagens sem a menor função prática. Os usuários limitam-se a dizer a cada minuto o que estão fazendo, sendo importante divulgar que tipo de sanduíche comeram no almoço e o que tomaram no café da manhã.

Pode-se dizer das vantagens do serviço em algumas situações, como a auto-promoção, divulgação, ou a publicação de notícias, mas estas só abrangem, juntas, cerca de 10% das postagens. O serviço ganhou notoriedade durante as eleições no Irã, já que manifestantes utilizaram o Twitter para organizar protestos na capital do país, pois a ferramenta escapava da censura estatal. Entretanto, casos como esses são raros.

O que se vê é a necessidade das pessoas de viver num Big Brother. O problema é que elas não se baseiam no clássico livro de George Orwell, mas no reality show global que é apenas uma má cria da obra. Com o celular e a internet, o indivíduo fica conectado 24 horas por dia, na falsa ilusão de que nunca está sozinho, que sempre está exposto – palavra que deixa de ter uma conotação negativa.

O ser humano precisa viver em grupo para sobreviver, precisa produzir cultura, se comunicar, é isso o que o caracteriza dentro da rede viva que compõe a natureza, mas isso não significa que os indivíduos possam abdicar da introspecção. Ela é elemento importante para o amadurecimento das ideias e conceitos próprios, que seguirão como o bem mais importante que um homem pode ter: a segurança de si que leva ao respeito das diferenças do outro.

Ao observar as últimas twittadas de muitos famosos que proclamam odiar invasão de privacidade, o que se revela são milhares de mensagens sem qualquer conteúdo – ou o medo de ficar sozinho com os próprios pensamentos. Talvez o Twitter faça sucesso entre as celebridades por este motivo: quem não tem muito a dizer sente-se à vontade com os singelos 140 caracteres.

# Esse texto escrevi faz tempo, como artigo para o Entrevista, mas não foi publicado por falta de espaço. Aproveitando meu "período vegetativo", resolvi postar.

2 comentários:

Suzan disse...

Será que hj Winston não teria twitter?
Também acho que o medo da solidão - e, supostamente com ela, do desaparecimento - muito contribui para o sucesso dessa nova rede "social". No entanto, ao que me parece, a introspecção já foi esquecida faz tempo...taí toda uma indústria de entretenimento que confirma essa hipótese, não acha? É preferível que as pessoas passem o seu precioso "tempo livre" trabalhando no twitter, pois assim pelo menos elas escrevem (mesmo que muitas e muitas bobagens, já que só lê quem quer..) do que trabalhando na árdua tarefa de acompanhar uma novela global, já que neste caso elas não estariam exercitando nem o tico nem o teco. Pra escrever o que vc comeu no café da manhã é preciso recordar, usar a linguagem (mesmo que seja uma linguagem inventada, devemos louvar a imaginação!), muitas vezes até fazer uma crítica da padaria do Manuel! Olha que blz.. rs
Não estou defendendo o twitter, só acho que o vilão do problema que vc apontou é bem mais velho...

Ah! Ótimo texto! Beijinhos!

Suzan

Cahe´s blog disse...

E lembrar que páginas do Entrevista caíam por não ter matérias...

Antes era: penso, logo existo.
Hoje é: estou conectado, logo existo.

Dá para pensar duas coisas:
1) Só 40%?
2) Twitter é mais barato que analista.

Visite-me (quando não tiver o que fazer):
Cahe is a Blogger