Sabadão de sol, e como quase sempre, lá estou na faculdade. Dureza ter aula num dia em que se deveria estar na praia (mentira, porque quem mora no litoral não aproveita o sábado para isso. Aliás, não utiliza nenhum dia da semana para este fim). Bom, voltando ao enfoque deste post – a tarde promete uma palestra sobre Jornalismo Policial. Apesar de um professor dizer achar absurdo aluno que não conhece o palestrante – Percival de Souza – confesso, nunca ouvi falar. Tudo bem que ele é comentarista policial do Jornal da Record, mas na verdade, assisto aos telejornais da tarde e olhe lá. Afinal, à noite estou estudando – boa desculpa, não?
Devido ao trânsito na descida da Serra, Percival de Souza não chegou no horário previsto, e os participantes do debate, Márcio Harisson, que é jornalista do Rádio Polícia, programa da Cultura AM, e Eduardo Veloso, repórter de polícia do jornal A Tribuna, iniciam o evento com suas opiniões e experiências sobre o tema. Os dois salientam a necessidade de uma especialização na área – até mesmo disciplina, o que acredito ser exagero. Harisson e Veloso possuem diploma de direito, no intuito de lidar corretamente com as notícias que tanto envolvem a área jurídica.
As questões sobre o uso indevido das palavras (usar furto e roubo como sinônimos), e a exposição de fotos de suspeitos (podendo denegrir a imagem de uma pessoa inocente) foram debatidas. Algo que ficou claro é que não importando que área optar no jornalismo, a credibilidade é o ponto-chave. Mesmo que não fosse em área policial – ou criminal, como prefere Souza -, é necessário que o profissional seja responsável diante do que publica, verificando informações incansavelmente e buscando ser objetivo no uso das palavras, para não dar margem à distorções e interpretações ambiguas.
Como Veloso disse, não é só a foto que deve ser motivo de preocupação: o contexto em que é colocada e a legenda são importantes. “Se é um suspeito sem certeza, nem o nome deve ser publicado”. Na opinião deles, repórter desta editoria deve desconfiar de tudo e de todos. “Repórter policial tem que ser malandro”, para não dizer “puta-velha”, comentou Harisson.
Apesar de não muito esclarecedor e conclusivo em certos pontos, uma das atualizações do Código de Ética dos Jornalistas pela FENAJ ratifica a presunção de inocência: todo o indivíduo é inocente até que se prove o contrário. Outro ponto é o do compromisso com a verdade, que há mais de 20 anos integra o Código: o “Respeito às aspas”, em que as declarações devem ser publicadas no devido contexto. Se em relação ao texto esta é a resolução, a imagem não deve deixar de ser tratada da mesma maneira.
Voltando à palestra e deixando as leis de lado, quando o jornalista Percival de Souza chegou no auditório C do Centro de Comunicações e Artes (CCA) – eu gosto mesmo é do antigo Facos!-, percebeu-se que a visão dele deixava de lado o tecnicismo para entrar no romantismo. Com as frases “Nós (jornalistas) somos contadores de história”, “Jornalismo e Literatura são conciliáveis, dependendo do espaço e do veículo”, e de que é necessário “percepção, sensibilidade e talento para escrever uma matéria”, o experiente comentarista pareceu conquistar mais a platéia.
Citou Euclides da Cunha, Gay Talese e Truman Capote – que fazem parte da pequena lista “Bibliografia básica para um futuro jornalista”, semeada aos sete cantos pelo professor Dirceu na faculdade, com a finalidade de contribuir na formação de nossas cabecinhas tão avoadas. Aliás, quem quiser, é só procurá-lo (de preferência na biblioteca, no período diurno) que sempre há uma listinha sobrando na mochila verde, pronta para ser entregue numa mistura de ar questionador/exigente/boa-gente. E claro, com uma leve pitadinha de braveza.
E novamente retornando ao jornalista do dia (adoro viajar), interessante a explicação de Souza sobre a troca de Jornalismo Policial para Criminal. Como a área demanda desde investigação que envolva psiquiatria e química forense até antropologia, o termo policial torna-se limitado. Dar crédito a alguém que entrou na área policial pelo Jornal da Tarde não é tão ruim assim. Percival nunca havia trabalhado antes na área, mas por “ordens” de “um certo” Mino Carta (que queria dar nova roupagem ao segmento) entrou nesta especialidade – e nunca mais saiu.
Após certa polêmica sobre o uso de termos técnicos corretos nas matérias policiais em troca de palavras mais claras mas “incorretas”, o comentarista da Record destacou a importância do uso de uma linguagem acessível ao público, diante de uma linguagem muitas vezes rebuscada do Direito.
Por reportar temas que envolvem a criminalidade, algumas histórias curiosas foram contadas. Em certa ocasião, ao entrevistar um foragido pertencente a um grupo de extermínio, Percival de Souza ouviu da boca do próprio que seria executado dois anos antes, e só não foi devido a um “vacilo do atirador”. O criminoso enumerou endereços da casa e trabalho e rotina diária. Por denunciar em programas jornalísticos as ações do bando, Percival era nome forte na lista negra. Já com outro entrevistado, no mesmo “setor” de extermínio, Percival narrou a fala do homem: “Muito prazer em te conhecer. Quando você precisar de mim, já sabe a minha especialidade”. É, tem que ter mesmo talento pra coisa.
- O jornalista Percival de Souza é autor de quatro livros: Autópsia do Medo, O crime da Rua Cuba, Sindicato do Crime - PCC e outros grupos e Narcoditadura (que ganhei – com autógrafo e tudo - num sorteio do evento!)
obs. com correção das cagadinhas indicada por uma anônima de grande ajuda.
5 comentários:
só ganhou porque se encontrava ausente. Digo, não se encontrava.
Li alguns dos textos.
Mas sinceramente, CASQUEI o bico com o texto do Bar.
Tinha que ser a Mariana mesmo.
Mas... Augusto dos Anjos não era tão ruim assim (apesar do nome)
e por favor, nada tão aprofundado, só apenas alguns trechos nos exercícios de literatura de quando eu fazia cursinho e não usava o material (olha só, hoje em dia eu uso!)
Ah, então, tô estudando porque semana que vem tô indo pro Paraná prestar vestibular, lá em Curitiba.
Não é pra música. É pra artes, mesmo.
Tempo vai, tempo vem e continua tudo na mesma.
O dia em que essa faculdade de música sair, Mari, te convido pra um super-porre daqueles.
Beijos, saudade.
À blogueira Mari,
Primeiro quero te dar parabéns pelo exercício da curiosidade e atenção com o novo. É assim que são formados os jornalistas. E pelo texto, claro, compreensível, relatando as palestras que ouviu. Mas jornalista tem de escrever português sem nenhum erro, por menor que seja, Mari, não pode estar avoada e escrever cabecinhas com cedilha; nem errar na crase de pertecentes a um grupo de extermínio sem lembrar que nunca existe crase antes de palavra masculina; ou, espero, distraidamente tacar um z no final de muitas. E pra aprimorar seu texto, não use aspas pra indicar que a palavra escolhida é pra ter outro significado como você usou em "setor", "vacilo do atirador" e por aí vai. Use a palavra ou expressão que diga exatamente o que quer dizer. Quanto à listinha do professor Dirceu, leia todos os livros, leia muito mais, leia as reportagens do Joel Silveira, leia as revistas Realidade, leia Don Quixote, leia todos os bons livros de reportagem, leia os clássicos. Você tem jeito pra coisa. Fique esperta e trabalhe muito.Boa sorte!
Um abraço de uma jornalista que já andou mais que você.
Esse comentário é da Ivani???
Ah......não leia o Joel Silveira. Ele ficou louco depois da 2ª Guerra.....rsrs
Postar um comentário