Um sentimento de culpa dominava meu ser há algum tempo. Minha consciência me perseguia, principalmente nas horas em que eu havia acabado de ler alguma matéria ou artigo em blogs e portais de notícias por aí. Esse sentimento ruim, no entanto, foi finalmente sanado após eu ler o blog de Marcelo Tas, mais especificamente, o post intitulado "Indecisos, nulos e em cima do muro: estou com vocês."
Estas seriam minhas primeiras eleições presidenciais. Confesso que estava empolgada em votar - aos 22 anos você começa a perceber o peso da idade, aquele sentimento de "descer a colina", então é bom ter esse frescor de novidade. No entanto, mesmo que eu votasse (terei que justificar), meu voto iria para o "lixo". Sim, sou uma pessoa indecisa, nula e em cima do muro - tudo ao mesmo tempo. E isso me incomodava, principalmente pelo fato de eu carregar o papel de "jornalista diplomada".
Eu poderia dizer, como desculpa esfarrapada, em belas palavras, que sou tão apegada à busca utópica pela isenção e imparcialidade jornalística que meu dever de cidadã teria sido afetado. Mas a verdade é que, como tal profissional, eu deveria estar a par de tudo, e assim, tirar minhas conclusões sobre os candidatos com facilidade. Mas as coisas não funcionam dessa maneira comigo: muitas vezes concluo que me falta certa personalidade, força de convicção, ou, para ficar mais bonito, sou guiada pela "teoria da relatividade". Quanto mais informação eu tenho, mais blogs (com toda sua carga parcial) e matérias leio, mais confusa eu fico.
Para minha surpresa, durante estas eleições meus colegas de sala realizaram uma discussão ferrenha por e-mail: apoiadores de Dilma X Serra. Foi surpresa porque ainda tenho a imagem daquela galera, geração crise-existencial-pós-moderna, e que, mesmo fazendo Jornalismo, só queria terminar logo os trabalhos e matérias e ir fazer qualquer outra coisa que não fosse ligada à obrigação de estar na faculdade - nisso me incluo, claro. Quando vi amigos tomando posições partidárias tão claramente, embasados em seus argumentos e muito bem informados, aquilo me chocou. Eu continuava no meu limbo, fiel representante dessa geração pessimista - e talvez acomodada.
Antes do primeiro turno, comecei a questionar, via Messenger, em quem meus amigos votariam. Um deles me respondeu algo que define bem nossa sensação: "Eu juro que tento ter esperança que alguém vai de fato fazer algo para melhorar, mas o sistema não permite então acho que se dane em quem você vai votar, vai continuar a mesma merda de sempre". Algumas pessoas pensam assim, mas como ficou confirmado pela "Onda verde" do primeiro turno, a maioria dos meus amigos falaram que votariam na Marina. Sim, achamos linda a causa ambiental e temos a sensação de que os outros candidatos e seus partidos tem um discurso velho.
E é aí que começou meu problema. Apesar de eu sempre simpatizar com Marina Silva, me ficou a impressão de que ela era apenas mais uma, igual, disfarçada numa nova roupagem. Entre Dilma e Serra eu não gostaria de votar, mesmo reconhecendo algum mérito em Lula e tendo uma inocente simpatia por Serra - como minha raíz de católica não-praticante, em casa sempre existiu um certo clima psdebista-não-praticante, contra um PT "bicho-papão" radical. Uma alternativa seria, talvez, o velhinho provocador, Plínio Arruda. Pensei nessa possibilidade e me surpreendi de ver outros amigos optando, com firmeza, no PSOL.
Mas então, novamente, fui facilmente influenciada por um outro amigo. Eu respeito muito suas opiniões e geralmente as compartilho. Para ele, Plínio teria usado um tom ameno e deixado de afirmar sua bandeira socialista. "Já está provado que se adequar ao sistema para chegar ao poder é fórmula perversa e fracassada. É um caminho sem volta. O PT tentou convencer seus militantes que estava mudando apenas o discurso em 2002. Mentira. Estava negando, na prática, o seu histórico de lutas, tudo aquilo que sempre defendeu", me disse.
E assim, mais uma vez, o SISTEMA foi lembrado. Sempre nos incomodando, nos impedindo, nos podando. A alternativa? Meu amigo, para minha surpresa, diz apoiar o PSTU. "Independemente de questões mais profundas, como o fato de ser um partido revolucionário (o que causa muitas piadas), é um partido que comprova que "político não é tudo igual". O PSTU participa da campanha eleitoral para divulgar o seu programa, as suas diretrizes. Não está preocupado em obter voto a qualquer custo."
Quando começo a simpatizar com as ideias, meu amigo me corta a esperança. "Mas, sinceramente, o partido não acredita que chegará ao poder dessa forma, através deste processo eleitoral. Não há ingenuidade neste sentido. O que ele acredita é que, havendo a revolução, havendo a mobilização de massa, seja daqui 50, 100, 1.000 anos, é preciso um partido socialista para dirigir este movimento". Pelo que entendo, alguns teóricos (bléh, odeio essa palavra) acreditam que nunca houve um país genuinamente socialista porque os que tentaram acabaram em Ditaduras. E assim penso: "Se já tentaram em tanto lugar, será que aqui no Brasil funcionaria? E quanto tempo isso vai levar?". Fico descrente, ou pior, com aquele sentimento individualista. Toda essa história me faz pensar que sistemas de governo, ou melhor, formas de viver como um coletivo e todas suas teorias estão muito longe de minha realidade e de meu singelo voto nas eleições de 2010 da República Federativa do Brasil.
Ao final, em uma de minhas enquetes via Msn, eis que toda minha dúvida é apenas confirmada como um estado de espírito natural. No meio da conversa sobre quem fulana ou cicrana vai votar, uma amiga diz:
- MAM Bahia.
- Que isso, tá doida? Isso é partido, é?
- Não, tô falando do Museu da Bahia. Tô fazendo TCC, só penso nisso, sei lá em quem vou votar.
Nessa digressão, ela acaba começando a falar sobre suas pesquisas, sobre arte, e me tenta explicar algo em poucas palavras: "O contemporâneo, na verdade, é a mistura de muitas linguagens que a gente encontra no modernismo e no pós-modernismo, ou seja, aquela bagunça que ninguém entende muito bem". É, adoro sua explicação simples e direta e acabo achando que a arte contemporênea é uma ótima metáfora para minha cabeça contemporânea. Espero que no domingo vocês saibam o que fazer, porque eu...